famosa coleção de arte, dispersada em leilão
ocorrido em 1966, um ano após sua morte, e
que foi composta de obras de Pablo Picasso,
Frida Kahlo, Marx Ernst, Leonor Fini, Juan
Miró e Henri Matisse, entre muitos outros.
Madame era também conhecida por sua
riquíssima coleção de esculturas africanas, pré-
colombianas e da Oceania do início do século
vinte. Ao contrário da maioria das pessoas à
época, ela já considerava a arte étnica uma
high art ou arte maior.
Entre os 200 itens expostos, estão muitos dos
vestidos que costumava usar de autoria de
Cristóbal Balenciaga, Elsa Schiaparelli e Paul
Poiret, assim como joias e outros acessórios.
Tinha especial predileção por sua coleção
de period rooms, miniaturas de ambientes
decorados nos mais variados estilos e que
costumava encomendar a especialistas. Essas
perfeitas salinhas tamanho boneca podiam ir
do estilo barroco espanhol àquele típico dos
ateliês dos pintores em Montmatre na virada
do século. Sete delas estão na mostra e será
a primeira vez que o público poderá apreciá-
las depois de 50 anos. Durante muito tempo,
encantando clientes e visitantes, ficaram
expostas na galeria instalada no seu salão
flagship nova-iorquino no número
715 da Quinta Avenida.
Vaidosa, vanguardista e sempre consciente da
importância do marketing, fez-se retratar por
grandes artistas da época como Picasso, Marie
Laurencin, Paul César Helleu e mesmo Andy
Warhol, que a desenhou em 1957. Consta que
este, depois de sua morte comprou um anel
de rubis com as iniciais HR que a ela havia
pertencido, comprovando a mútua admiração
de dois craques no ramo da arte como business
e do business como arte. Tanto o anel como os
retratos estão na exposição. Dos mais de trinta
portraits de Helena Rubinstein desenhados
por Picasso em 1955, doze estão sendo vistos
pela primeira vez nos Estados Unidos. E não
haveria de faltar ali, obviamente, os múltiplos
e criativos anúncios, hoje vintage, os produtos
cosméticos com suas embalagens e os filmes
promocionais relacionados ao seu business.
Na virada do século em que viveu, o excesso de
uso de cosméticos, associado à feições muito
maquiladas de artistas e prostitutas, era mal
visto pela classe média. Pois Helena Rubinstein
resolveu virar do avesso esse conceito, ou
melhor, transformar em positivo um antigo
preconceito. Mostrou às mulheres que elas
passaram a ter à sua disposição os elementos
para conseguir uma melhor aparência e,
desse modo, angariar maior autoconfiança e
sucesso. Derrubou o mito de que a beleza e
o bom gosto seriam, ou inatos, ou privilégio
dos mais abastados. E possibilitando às
mulheres que se mostrassem assertivas em
relação ao próprio corpo e esbanjassem uma
atitude independente, contribuiu para que se
tornassem mais poderosas.
Em 1888, na Polônia, Helena Rubinstein
escapou de um casamento que o pai queria
impor-lhe com um homem mais velho e, em
1896, depois de o ter ajudado nos negócios
e de ter se iniciado no estudo da medicina,
conseguiu se mudar de Cracóvia para a
Austrália onde morava um tio. Fez questão
de levar consigo potes de um creme que um
químico húngaro havia desenvolvido para
sua mãe. Em Melbourne, importando mais
cremes da Polônia, conseguiu abrir, com
enorme sucesso, em 1903, seu primeiro salão
de beleza. “Beleza é Poder”, frase que dá título
à exposição, foi a manchete de seu primeiro
anúncio num jornal australiano em 1904.
A ousadia da expressão já evidenciava sua
postura feminista e seu tino comercial.
Apesar de na Austrália ter virado a cabeça
de um americano com quem viria a casar-se
somente muitos anos depois, pois resolveu
que antes de criar uma família tinha de abrir
salões ainda mais luxuosos em Londres e Paris,
manteve-se solteira até os 38 anos. Anos mais
tarde, indo visitá-la em Londres, onde Helena
continuava a desenvolver cremes e novos
produtos, Edward William Titus conseguiu,
não só que ela se tornasse sua mulher, como
também levá-la para viver nos Estados
Unidos onde tiveram um filho. A primeira
guerra mundial ameaçava a Europa e, em
1915, Madame inaugurou seu primeiro salão
em Nova Iorque. Pouco antes, dois eventos
hoje considerados revolucionários, haviam
abalado os alicerces da sociedade conservadora
americana. Um deles foi a exposição de arte
europeia vanguardista em 1913 com trabalhos,
entre outros, de Marcel Duchamp que marcava
uma reviravolta nos conceitos da arte moderna
e, em 1911, a grande passeata das chamadas
sufragetes, onde muitas das mulheres pintaram
a boca com batom vermelho como símbolo da
luta pela emancipação feminina.
Helena Rubinstein não perdia tempo. Intuitiva,
teve a genialidade de desenvolver uma marca
que atraía não apenas as mulheres sofisticadas
da sociedade como também aquelas
profissionais que começavam a ganhar sua
própria independência financeira. Percebeu
a existência de um nicho importante que se
criava com a entrada de mulheres imigrantes
no mercado de trabalho.
EXPOSIÇÃO
“HELENA
RUBINSTEIN:
BEAUTY IS
POWER” NO
THE JEWISH
MUSEUM /
NOVA YORK
FOTO: DAVID
HEALD
16
De Estilo e Olhar /
De Estilo y Mirada
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