Revista Hall 45ª Edição - fevereiro de 2016 - page 24

VÊNUS BY
SANDRO
BOTTICELLI
(1490)
O RENASCIMENTO DE VÊNUS
BY WALTER CRANE (1877)
VOLKER-H. SCHNEIDER
TATE, LONDRES 2015
Consta que Rossetti teria pago mais quatro
libras para que esta hoje tão icônica tela fosse
limpa. Durante muito tempo acreditou-se
que ele próprio tivesse retocado o cabelo da
retratada para que se tornassem vermelhos,
como era do gosto dos pré-rafaelitas e o que
viria a contrariar uma crença dos tempos
medievais que associava o cabelo vermelho
ao mal. Porém, nas pesquisas feitas para
a exposição, ficou esclarecido, por meio
da técnica de refletografia infravermelha,
que tratava-se de um velho mito e que
Rossetti decididamente não tocou na cor
original pintada por Botticelli três séculos
antes. Segundo Ana Debenedetti, curadora
de pintura do museu londrino, é preciso
esclarecer que o cabelo da retratada não
seria de fato vermelho, mas teria um tom
amorangado, ou seja, o que se costuma
chamar de “louro veneziano”, muito comum
no período. De qualquer modo é sabido
que Rossetti adorava este retrato e que ele
o inspirou na série que depois pintou de
enormes telas de belas mulheres como a
La Ghirlandata, que hoje pertence à Galeria
Guildhall e que foi cedida para a exposição.
Em vida, sabe-se que Rossetti tinha o retrato
de Smerelda pendurado na parede de sua
casa no bairro de Chelsea, exatamente
quando o culto à Botticelli fervia. Daí talvez
a razão de ser esta obra tão crucial para a
mostra Botticelli Re-imaginado, que consegue,
de forma extremante bem-sucedida,
documentar esta estranha relação entre
a modernidade e um pintor do século 15.
Sabe-se que antes de morrer, Dante Gabriel
Rossetti vendeu a tela por 330 libras para
seu patrono Constantine Yonides, então
conhecido colecionador, que, por sua vez,
alegou em testamento para o V&A em 1901.
Ainda segundo Jonathan Jones, mais do
que um culto moderno, Botticelli poderia
ser visto como um artista de fato moderno.
Nós, inconscientemente o aceitaríamos como
um artista que trata do nosso desconforto
e da estranheza das coisas. E cita a
frase de um texto de 1870, de autoria do
crítico vitoriano Walter Pater, dizendo que
as mulheres de Botticelli “são de certa
maneira anjos, mas passando a sensação
de deslocamento e de perda, ou seja um
sentimento de exilio”. Uma sensação nada
desconhecida de mulheres e – porque não
também – de homens contemporâneos.
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