Brasil ganha mercados, mas concentra pauta

09/01/2012 em Notícias

O País ampliou os destinos de suas exportações na última década, porém, os produtos básicos ganharam importância nos negócios, enquanto os manufaturados perderam participação.

São Paulo – As exportações brasileiras cresceram muito nos últimos anos, passaram de US$ 58 bilhões em 2001 para US$ 256 bilhões em 2011, o Brasil conquistou novos mercados e ampliou sua presença em destinos menos tradicionais, especialmente em países emergentes, mas a pauta de produtos comercializados se concentrou ainda mais nos itens básicos.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os produtos básicos responderam por 26,3% das exportações brasileiras em 2001, participação que passou para 47,8% no ano passado. No mesmo período, a fatia dos semimanufaturados permaneceu praticamente estável, por volta dos 14%, e a dos manufaturados caiu de 56,5% para 36,1%.

São vários os fatores que provocaram essa mudança no perfil da pauta. Em primeiro lugar o crescimento da demanda mundial por commodities e o aumento dos preços desses produtos, na última década, fizeram com que os exportadores brasileiros de itens básicos vendessem mais e com maior retorno. Mais do que os volumes, foram as receitas obtidas com os embarques dessas mercadorias que ganharam espaço.

“Nos últimos anos houve um peso maior dos produtos básicos na pauta por causa da alta nos preços das commodities”, disse à ANBA a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres. “As exportações de manufaturados também cresceram [em termos absolutos], mas as de básicos aumentaram de forma mais acelerada, dando maior peso [para esses produtos]”, acrescentou.

De acordo com o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o País sempre foi exportador de commodities, mas o aumento da demanda das nações emergentes por alimentos intensificou ainda mais a vocação brasileira na área agropecuária. “A diversificação [de mercados] é decorrente do aumento do poder de compra desses países [em desenvolvimento]”, declarou.

O CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, destacou que o crescimento econômico de países como China, Índia, África do Sul e os árabes, entre outros, criou as condições para uma necessária melhora das condições de vida de suas populações, especialmente por meio da alimentação, o que se reflete, por exemplo, no forte aumento das exportações brasileiras de proteína animal, principalmente de carne de frango e bovina.

Câmbio

Se por um lado os exportadores brasileiros de commodities ganharam, as indústrias nacionais perderam competitividade no mercado externo por causa da desvalorização do dólar. Em boa parte da década passada, os manufaturados foram responsáveis pela maior fatia da pauta de exportações do País, quadro que começou a mudar a partir de 2007.

“Todas as empresas exportadoras foram afetadas pelo câmbio”, observou Tatiana Prazeres. No caso das commodities, porém, o aumento das cotações no mercado internacional compensou as perdas com a valorização do real. Além disso, setores que utilizam muitos insumos importados, como a agricultura, que depende de fertilizantes adquiridos lá fora, tiveram redução de custos em moeda brasileira.

“As indústrias que usam mão de obra de forma mais intensiva foram mais prejudicadas pelo câmbio”, ressaltou a secretária. Isso, segundo Castro, inclui segmentos “tipicamente brasileiros”, como os de móveis, calçados e de confecções, que, além de perderem competitividade no exterior por causa do câmbio, ainda têm que enfrentar a concorrência asiática nos mercados internacional e doméstico. “O Brasil não tem preço para competir na área de manufaturados”, declarou o executivo da AEB.

Para ela, na indústria, só quem conseguiu ter algum benefício com a valorização do dólar frente ao real foram as multinacionais que têm fábricas no Brasil e que utilizam insumos importados de suas matrizes. Ou seja, se por um lado seus produtos fabricados no País ficaram mais caros em dólar, por outro o custo de parte de suas matérias-primas ficou mais baixo em real.

Força doméstica

Alaby acrescentou que, além do câmbio, o crescimento do mercado interno brasileiro também desestimulou as exportações industriais. “Com o crescimento da renda nacional, as empresas deslocaram muito de sua produção para o mercado interno”, afirmou o diretor da Câmara Árabe.

No início da década passada, a economia brasileira estava em baixa e cada vez mais as empresas passaram a buscar compradores para seus produtos no exterior, cenário que se inverteu nos últimos anos, com o Brasil dando saltos enquanto a turbulência atingia outras partes do mundo.

Alaby lembrou que as empresas brasileiras sempre consideraram o mercado externo como uma “válvula de escape” a ser usada em épocas de vacas magras na seara interna, e essa cultura ainda existe, apesar do setor exportador estar mais profissionalizado.

Em sua avaliação, para competir, especialmente com os produtos chineses, as companhias precisam investir no aumento da produção, em qualidade, no design, na promoção da marca e explorar nichos de mercado. De acordo com ele, existem exemplos de fábricas de calçados, móveis e confecções que conseguem manter um bom desempenho lá fora mesmo com o câmbio desfavorável, mas não dá para concorrer com os asiáticos oferecendo os mesmos tipos de mercadorias.

No lado do governo, tanto Castro quanto Alaby citam outro fator de redução da competitividade brasileira, o chamado “custo Brasil”, ou seja, a alta carga tributária, a burocracia, a infraestrutura deficiente, entre outros problemas.

Como o mercado interno é muito grande, mesmo com tais dificuldades, vale a pena produzir aqui para abastecê-lo, e como isso implica em uma grande escala de produção, é possível ter o suficiente para também exportar. O Brasil continua a vender principalmente itens industrializados para alguns mercados, especialmente na América Latina.

Na opinião de Alaby, porém, o principal entrave para as exportações de itens com maior valor agregado é a falta de financiamento. O crédito para esse tipo de operação no Brasil é escasso e caro.

E o governo reconhece isso. Tanto que, na semana passada, o secretário-executivo do MDIC, Alessandro Teixeira, informou que em breve serão anunciadas medidas de incentivo aos exportadores, e a facilitação do acesso ao crédito vai estar entre elas. Tatiana Prazeres não quis adiantar quais serão essas medidas, mas informou que, além dos financiamentos, elas envolvem seguros e desburocratização, principalmente para companhias de menor porte.

Promoção

O governo aposta também na promoção comercial, especialmente em mercados emergentes, como os da África, Oriente Médio e Ásia. Ela credita a esse esforço a diversificação de destinos que os exportadores brasileiros tiveram ao longo da última década. Nesse período, dentro de uma política de incentivo à cooperação Sul-Sul, a importância dos países em desenvolvimento para as exportações brasileiras aumentou muito. A China, por exemplo, ultrapassou os Estados Unidos como maior cliente do Brasil.

Para Castro, porém, essa diversificação ocorreu mais por causa da demanda crescente das nações emergentes do que pelos esforços brasileiros de promoção. Ele critica de forma veemente a perda de participação de mercados tradicionais, como os EUA, nas exportações do País. Essa fatia já foi de 25%, mas agora é de apenas 10%.

Segundo Alaby, o Brasil muitas vezes parece mais preocupado em proteger seu mercado interno do que em atacar os concorrentes na seara externa, mas ele reconhece que a abertura de novos destinos não ocorreu somente pelo aumento da demanda dos emergentes, mas também polos esforços de promoção de empresas e governo. Ele acha a diversificação um dado positivo, pois diminui a dependência em poucos mercados.

Futuro

O CEO da Câmara Árabe destaca, porém, que o Brasil vai precisar ser mais agressivo no front externo a partir de agora, pois, com suas economias em baixa, os EUA e a União Europeia vão disputar espaço com os emergentes nas vendas internacionais. “Europa e Estados Unidos vão precisar exportar mais e vão concorrer com o Brasil, China, Turquia, entre outros”, afirmou.

No longo prazo, porém, ele acredita que os endividados países europeus vão ter que reduzir ou acabar com os subsídios dados aos seus produtores rurais, o que é bom para o agronegócio brasileiro.

Com os países desenvolvidos em crise, a AEB prevê redução das exportações e do superávit comercial brasileiro este ano. O governo prefere não fazer projeções no momento. Segundo Tatiana Prazeres, como o cenário externo está instável, o ministério prefere deixar para definir metas de exportação no final do primeiro trimestre.

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